A cerveja tem longa história nas terras da Boêmia: mais de mil anos, desde o primeiro registro de produção da bebida por aqui. Apesar de receber influências da escola cervejeira da vizinha Alemanha e fazer parte dela, a cerveja tcheca têm sua própria personalidade, tradição e sabor. E, justamente, neste post vou te contar mais peculiaridades sobre a cerveja tcheca.
1) Graus plato

Na República Tcheca, utilizam-se graus Plato para denominar as cervejas.
Os bares em geral vão oferecer cervejas com 10°, 11°, 12° e assim por diante. Isso pode confundir com teor alcoólico, mas não se refere a isso! Apesar de ter relação direta com a graduação alcóolica, esses números não indicam a porcentagem de álcool.
Grau Plato é a porcentagem de açúcar presente no mosto ao final da brassagem, antes de começar a fermentação. Esse açúcar vai ser transformado em álcool, gás carbônico e outros sub-produtos em menor escala. Por exemplo, ao pedir uma cerveja 12°, você está pedindo uma cerveja que tinha 12% de açúcar no mosto antes de fermentar. Entre diferentes produtos e sub-produtos da fermentação, isso vai resultar em aproximadamente 4,8% a 5,0% de álcool.
Então, quando você for pedir cerveja por aqui, a maioria dos atendentes nos bares, pubs e restaurantes podem perguntar qual tipo de cerveja você quer, ou seja, 10°, 11°, 12°. Se não perguntarem nada, provavelmente, é porque naquele momento só têm um tipo que deve ser a de 10°. Se você quiser arriscar e pedir a cerveja em tcheco, poderá dizer “Jedno pivo, prosim” (Uma cerveja, por favor). E complementar o tipo: desitku (10°), jedenáctku (11°), dvanáctku ( 12°) e třináctku (13°). Para pronunciar corretamente, saiba que o “j” tem som de “i” e o “c” tem som de “ts”. Se não quer se arriscar, peça em inglês que também vai funcionar: 10° (ten degrees) e assim por diante. E quanto mais alto o grau, maior o teor alcoóolico.
2) Temperatura da cerveja

Antes de reclamar que a cerveja que vendem na República Tcheca não é suficientemente gelada, é bom que você saiba que a tradição cervejeira daqui é muito mais antiga que a refrigeração. Era muito comum guardar a cerveja (e outros alimentos) no porão das casas, onde a temperatura varia muito pouco, geralmente entre 8°C e 12°C. Isso acontecia inclusive nas cervejarias, algumas delas mantém enormes labirintos subterrâneos que eram, e em alguns casos ainda são, usados para estocar cerveja. Essa temperatura em torno de 10°C é considerada aceitável para o consumo da cerveja até hoje.
Mas, você pode estar se perguntando: existe uma temperatura ideal? De fato, cada país tem sua tradição que influencia bastante nisso, mas existem várias teorias que relacionam a temperatura de consumo com a complexidade da cerveja, sendo assim, cervejas com um “bouquet” mais amplo como as belgas e ales, em geral, teriam uma temperatura ideal mais alta (geralmente fala-se em torno de 10°C) enquanto as cervejas de paladar mais limpo como as lagers teriam uma temperatura ideal mais baixa (em torno dos 5°C).
Por isso, já sabe…você não vai encontrar cervejas “trincando” de gelada aqui na República Tcheca. Na verdade, o que importa mesmo é o gosto pessoal, mas é sempre bom tentar conhecer os costumes locais para não ter decepções.
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3) Budweiser não é americana

Na verdade, existe a Budweiser americana que foi comprada pela empresa belgo-brasileira InBev, permitindo, assim, a venda regular no Brasil. Porém, a Budweiser vendida aqui na República Tcheca não é a americana, ou seja, não é a mesma marca que você encontra no Brasil. A origem dela é muito antiga, mais precisamente do ano de 1265, quando a cervejaria foi criada na cidade de České Budějovice e, justamente, por causa disso leva o nome de Budweiser, que é o gentílico em alemão de České Budějovice.
Budweiser, porém, era o mesmo nome da cerveja produzida pela cervejaria americana Anheuser-Busch. O uso do mesmo nome por ambas cervejarias começou em 1876, quando o americano Carl Conrad quis aproveitar a crescente popularidade das cervejas europeias no mercado americano e acreditou que poderia imitar essas cervejas na América e escolheu um nome que pudesse ser facilmente pronunciado em inglês, assim, batizou sua cerveja de Budweiser Bier.
Desde 1907 até hoje existem disputas nos tribunais internacionais pelo uso do nome. Em 2016, a marca tcheca ganhou o direito de uso do nome na Itália. Já no Brasil, a marca tcheca chega com o nome de “Czechvar”.
No site da marca tcheca Budějovický Budvar, você pode conhecer a história completa da empresa desde 1265.
4) Lúpulo especial

Quando fala-se em cerveja tcheca, é importante saber que há um ingrediente singular que compõe sua receita: é o lúpulo de Žatec. Cultivado desde os princípios da Idade Média até hoje, o lúpulo da cidade de Žatec é considerado de alta qualidade e, por isso, exportado para o mundo todo.
Em uma viagem no tempo, a primeira menção escrita sobre Žatec foi no ano 1004. Depois, em 1261, os mestres-cervejeiros obtiveram o direito de produzir cerveja. No ano de 1539, começou-se a usar um selo especial que garante a origem do lúpulo como próprio da região.
Já naquela época, o lúpulo tcheco era muito apreciado no exterior, trazendo os preços mais altos nos mercados de lúpulo em Hamburgo no ano de 1101, por exemplo. A cerveja produzida, em si, é que era muito diferente. O normal era fazer uma espécie de cerveja de trigo turva, usando o chamado fermento de fermentação superior, conhecido como cerveja branca.
Segundo muitos estudiosos de cerveja, a denominada cerveja branca foi levada da Boêmia para a Baviera, onde mais tarde se transformou nos estilos Hefeweizen e Weizen (cervejas de trigo). No livro A History of Beer and Brewing , de Ian Hornsey, há um trecho que ele comenta que essa forma de produzir cerveja originou-se na Boêmia e começou a ser fabricada na Baviera durante a segunda metade do século 15 até hoje.
Enfim, quando você pensar em cerveja tcheca, saiba que ela provavelmente terá os lúpulos vermelhos recém-maduros das cidades de Žatec, Tršice e Úštěk, que integram os tipos mundialmente famosos que dão um fino aroma à cerveja e sabor marcante.
Fontes de pesquisa:
– Beer and Breweries of the Czech Republic (visitpivo.cz)
– Evan Rail (www.evanrail.com/)
– Artigos do mestre-cervejeiro Giovani MacDonald
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